08/07/2025
Um poema para a nossa Luanda.
No centro, o kandongueiro, azul e branco como as manhãs de calor. Além de carro, é um kubiko em movimento, um ponto de convergência de todos os rostos e todos os nomes; e foi dentro dele que ouvi pela primeira vez a minha música a tocar no telemóvel de um desconhecido:
-Eh eh eh!
E ali, entre o ronco do motor e pregão do cobrador, nasceu em mim um sorriso que não desvanece e que vive até hoje cravado nas entranhas da cidade.
O sol poente ao fundo é o compasso de um breve adeus. Pois Luanda não dorme, cochila sempre com um olho atento no futuro.
E as nuvens?
Pensamentos em fuga, leves no céu, mas densos de histórias por dentro, também.
E a estrada…
Tudo que já percorremos: asfalto, palco, a velha e boa luta!
"Siga la Luna" não é slogan, é a sabedoria da rua, da arte, da cultura e da noite, uma filosofia angolana que respira ancestralidade e brilha até ao futuro longínquo.
E esta bandeira é Luanda no seu estado mais cru.
É o barulho do trânsito a entrar pelo peito,
É o calor que bate de noite no vidro rachado,
É o cheiro à mufete de sábado, de bombô frito, suor e esperança…
Ela também é o sinal de que há beleza no caos.
Que mesmo com pressa, Luanda dança.
Mesmo com as lutas, Luanda sonha.
E mesmo sem tempo, Luanda cuida dos seus, no seu tempo e à sua maneira.
Ela fala dos que esperam no largo, dos que vendem na paragem cheia,
dos que sonham acordados e engravatados nos escritórios aos que gritam “São Paulo-Aeroporto” e aos que emagrecem pra chegar à casa.
É por eles, e com eles, que eu me levanto.
Quando olho para ela, não vejo só uma cidade.
Vejo o palco onde muitos sonhos nasceram e brilharam.
E agora, ela sobe.
Entre a multidão, no calor da noite, no som do batuque.
E com ela, sobe a voz de todos que, como tu, vieram da correria, mas escolheram a lua para seguir,
Esta bandeira, Luanda,
Eleva-a bem alto,
É tua!
Ass.:
Luna