20/05/2025
Maristela Benites, diretora do IMPAE levou o 1 lugar: Prêmio Voz da Paisagem. AVISTAR.
"A paisagem sonora da planície pantaneira encanta pela riqueza de sons, pela expressividade de sua biodiversidade e pela harmonia entre graves e agudos, como uma orquestra em perfeita sintonia. Às 04h30min da manhã, o casal de nhacurutus imposta voz profunda e grave, a somar-se ao coro de sapos, rãs e pererecas, além dos mosquitos e voo de morcego, criando uma melodia tão equilibrada quanto fascinante.
Mas as águas do Pantanal não cantam apenas beleza, elas ecoam um simbolismo profundo e urgente. De forma atípica, entre os dias 14 e 20 de abril deste ano, chuvas intensas caíram sobre a planície, especialmente na região de Miranda, enchendo baías, corixos, brejos, rios e vazantes. Abril marca o fim da estação chuvosa, e maio principia o período de seca. Este ano, porém, a cheia era improvável: as precipitações que costumam abastecer as cabeceiras de rios no planalto - geralmente concentradas entre dezembro e fevereiro - não ocorreram como o esperado. Quando esse período passa sem chuvas abundantes, a planície dificilmente se enche.
E as cheias, pequenas ou grandes, são o pulsar do Pantanal. Elas movimentam a roda da vida e sustentam gentes, plantas e bichos com água, alimento e esperança. No entanto, entre todos os biomas brasileiros, o Pantanal é o que mais perdeu superfície hídrica em relação à sua média histórica: um declínio alarmante de 61%. Dados do MapBiomas revelam que, em 2024, o bioma permaneceu abaixo da média em todos os meses do ano. E tem sido assim nos últimos cinco anos, um Pantanal que arde em chamas.
Por isso, cantar para a chuva, com a chuva e pela chuva é um ato de esperança, de sede por água e fome de vida. Essa paisagem sonora é um encontro de timbres: graves e agudos, gemidos e trinados, vozes profundas e finas que se entrelaçam numa amplitude vocal única, onde cada ser contribui para a sinfonia da existência e coexistência no Mar de Xaraés.
Essa música da natureza não é apenas um espetáculo, é um manifesto. Uma narrativa de luta e um canto de esperança por um Pantanal conservado, para que a sociobiodiversidade permaneça vibrante, encantadora e eterna."