20/03/2025
Durante as investigações arqueológicas do século XIX na região da Lícia, na Turquia, foram descobertos fragmentos de uma grande inscrição na antiga cidade de Oinoanda. Novas escavações no século XX trouxeram à luz mais fragmentos da inscrição, permitindo aos estudiosos reconstruir grande parte de seu conteúdo. A busca por outras partes da inscrição continua até hoje.
A inscrição foi gravada no século II d.C. por Diógenes de Oinoanda, um filósofo epicurista interessado em difundir o pensamento epicurista entre seus concidadãos e que não é mencionado por nenhum escritor antigo.
Está escrita em grego koiné helenístico e estima-se que cobria um muro de aproximadamente 80 metros de comprimento e 3 metros de altura. Foi gravada em pedras de calcário, que estavam colocadas em um espaço público da cidade. Calcula-se que continha cerca de 25.000 palavras e mais de 100.000 letras, tornando-se a maior inscrição filosófica da Antiguidade. Até hoje, cerca de 300 fragmentos dela foram descobertos.
A inscrição preserva ensinamentos de Epicuro (341-270 a.C.), centrados na física, na ética e na epistemologia. Enfatiza a ataraxia (a serenidade da alma) e a escolha de prazeres naturais e necessários, reiterando a importância da frónesis (juízo correto) na busca da felicidade. Também destaca a importância de evitar o medo da morte e de se libertar das superstições.
Ela traz elementos significativos para o nosso conhecimento do pensamento epicurista, principalmente porque representa uma fonte autêntica e direta da Antiguidade Tardia. Contém fragmentos que parecem estar baseados em obras perdidas de Epicuro e seus discípulos. Dessa forma, complementa os textos conservados, como as cartas de Epicuro e os poemas de Lucrécio.
Demonstra que a filosofia epicurista não se limitou a Atenas, mas se difundiu para regiões como a Lícia, na Ásia Menor.
O fato de que alguém no século II d.C. tenha dedicado tempo e dinheiro para gravar uma inscrição filosófica pública mostra que o epicurismo ainda tinha influência, apesar da predominância do estoicismo e do neoplatonismo.
Também indica que o pensamento epicurista não era dirigido apenas a uma elite intelectual, mas também era comunicado ao povo.
